Empresas já indicam que vão usar benefício
28 de novembro de 2012
Marcas japonesas de luxo devem adotar divisão de cotas para pagar tributo menor, que começa a valer em 2013
Desde que o governo elevou o IPI, no fim do ano passado, a alemã Audi aumentou em 7,8% o preço de seus modelos
GABRIEL BALDOCCHIDE SÃO PAULO
Montadoras instaladas no Brasil poderão emprestar suas cotas de importação do regime automotivo para trazer do exterior modelos de outras marcas do grupo com tributação reduzida.
Pelas novas regras do setor, todos os veículos vendidos no país terão um adicional de 30 pontos percentuais a partir de 2013.
Para conseguir o abatimento nos nacionais, montadoras terão de cumprir exigências como investimento em pesquisa e índice de nacionalização de insumos.
A redução do adicional do IPI nos importados é restrita a três cotas.
A primeira é voltada às comercializadoras, grupos sem fábrica no país e sem projeto de construí-la, como a Kia.
O cálculo da cota é feito com base nas importações dos últimos três anos, limitado a 4.800 veículos por ano.
A segunda estará disponível às produtoras que excederem os índices mínimos exigidos no regime, até o limite de 4.800 unidades/ano.
Há ainda uma cota para as importadoras com projetos para trazer fábrica ao país. O desconto do IPI vale para a metade do volume que será produzido na unidade.
SOMA
Os benefícios são complementares, ou seja, a mesma empresa pode acessar as três.
É o caso da Fiat e da Nissan, por exemplo. Ambas já têm fábrica no Brasil, mas constroem novas unidades.
A italiana poderia usar as cotas para as importações de Chrysler. A outra via (Chrysler-Fiat) também é válida.
A relação entre as marcas ajudaria a Alfa Romeo, em um eventual retorno ao país.
Ferrari e Maserati, também do grupo italiano, não entram na regra porque estão sob a responsabilidade de um importador autorizado.
As japonesas lideram o grupo das potenciais beneficiárias. A Toyota poderia emprestar cotas para recém-chegada divisão de luxo Lexus; a Honda, para a Acura, e a Nissan, para a Infiniti.
Esta última confirmou sua entrada no país no sábado, antes de ver o piloto Sebastian Vettel se tornar campeão da Fórmula 1 -a Infiniti é patrocinadora da sua equipe.
A companhia já sinalizou que pretende usar as cotas da Nissan. Não é possível trazer veículos do Japão com Imposto de Importação e [adicional de] IPI, afirma o presidente da Nissan no Brasil, Christian Meunier.
A Toyota também estuda a medida. Segundo a empresa, o uso das cotas pela Lexus vai depender de estratégia.
A cota é bem-vinda para as empresas. Como são marcas estreantes, não têm histórico de importação e, portanto, não conseguiriam o benefício como comercializadoras.
Como exemplo do impacto dos 30 pontos no preço final dos modelos, a Audi elevou em 7,8% os preços desde que o governo criou a primeira barreira aos importados no final de 2011.
Cota antecipada reduz fila por carro popular
Depois de mais de dois meses praticamente sem vender carros devido à restrição do governo a importados do México, a Nissan retomou os negócios neste mês e conseguiu praticamente zerar a fila de espera por modelos populares.
A restrição com o parceiro comercial, negociada pelo governo Dilma neste ano, impôs à montadora uma limitação de 35 mil veículos isentos de Imposto de Importação e do adicional de 30 pontos de IPI aos estrangeiros.
O prazo para o uso do limite se estendia até março de 2013, mas a empresa estourou a cota em agosto e parou de importar.
Cerca de 10 mil unidades ficaram paradas nos portos brasileiros, e a média de vendas mensal caiu de 3.700 carros para 260 nos últimos meses.
A solução chegou em outubro, com a habilitação ao novo regime automotivo. Uma exceção incluída no decreto das novas regras antecipou para este ano cotas adicionais de importação.
Por investir na construção de uma nova fábrica, no Rio, a montadora japonesa tem direito a abater o adicional do IPI de metade do volume que será fabricado na nova unidade: ou 75 mil unidades por ano.
Segundo a associação das concessionárias da marca, cerca de 7.000 consumidores interessados nos modelos March e Versa deixaram os nomes nas lojas nos últimos meses.
Com o ingresso dos carros parados nos portos e a normalização dos embarques, os vendedores acionaram os contatos. Campanhas na TV foram retomadas para anunciar pronta entrega nas lojas.
A fila foi muito forte por dois meses. Acabou. A boa coisa é que temos visibilidade agora, afirma o presidente da Nissan no Brasil, Christian Meunier.
FICOU MAIS CARO
Quem procurar um dos modelos afetados, contudo, terá de pagar mais.
O reajuste é de cerca de R$ 1.000 para o March e até R$ 2.000 para o Versa. Refletem o repasse no Imposto de Importação, para o qual não há exceção na cota do regime automotivo.
Munier prevê um período de estabilidade para as vendas até a chegada da fábrica, em 2014.
A expectativa é terminar o ano com uma fatia de 2,5% do mercado. Sem a restrição da cota, diz, chegaria a 4%. (GB)
via Folha de S.Paulo
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