12/12/2012
Querosene faz voo para Nordeste ficar mais caro que para Argentina

Querosene faz voo para Nordeste ficar mais caro que para Argentina

7 de dezembro de 2012


ICMS e outros encargos no Brasil encarecem combustível, que chega a 45% do gasto de empresa aérea

Associação quer mudar fórmula de cálculo da Petrobras e unificar em 12% alíquota em todos os Estados do país

As passagens para o Nordeste neste verão estão mais caras do que para Buenos Aires, na Argentina. Diferenças no preço do combustível cobrado em cada destino, além de uma procura maior por viagens dentro do Brasil nesta temporada, estão entre as explicações das companhias aéreas para cobrar mais para voar dentro do país.

Por conta da cobrança de ICMS, de 19% do preço do combustível na média, abastecer um avião para voar dentro do Brasil sai mais caro do que quando se abastece para voar para o exterior.

Companhias aéreas estrangeiras ou brasileiras voando para o exterior pagam hoje R$ 1,98 o litro em Guarulhos, enquanto para os voos domésticos o litro no mesmo aeroporto sai por R$ 2,65.

Soma-se a isso o fato de que, ao abastecer no destino internacional, a conta também fica mais barata.

Na Argentina, o querosene de aviação está custando, em média, o equivalente a R$ 1,85 -38,2% menos que o preço cobrado em Guarulhos para voos domésticos.

E esse valor na Argentina é cobrado apenas das estrangeiras. A Aerolíneas Argentina não paga os 21% de IVA cobrado das estrangeiras.

Nos EUA, as companhias americanas gastam 40% menos do que as brasileiras para voar internamente, incluindo impostos.

O sistema de cobrança do ICMS faz com que existam variações também dentro do Brasil. Rio de Janeiro e Minas Gerais conseguiram atrair mais voos nos últimos anos com uma política de redução do ICMS em relação a São Paulo: 12% e 11%, respectivamente, ante 25% em SP.

Entre outros tributos, há também um adicional de 25% do valor do frete destinado à renovação da frota da Marinha Mercante.

Por meio da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), o setor pleiteia a unificação da cobrança do ICMS em 12%, além de mudanças no sistema de precificação da Petrobras.

O produto é precificado com base no preço do golfo do México, com um adicional de frete de importação em 100%, embora 75% sejam originários do Brasil.

Segundo a Abear, isso torna o querosene de aviação vendido no mercado doméstico um dos mais caros do mundo. É mais caro do que em países em guerra, como o Afeganistão, ou com infraestrutura deficiente, como o Chade, na África, diz Adalberto Febeliano, da Abear.

O combustível já representa hoje de 40% a 45% dos custos das companhias aéreas. Nos últimos quase três anos, o insumo aumentou 58%.

Custo Brasil
Como o preço varia

Em Guarulhos pagam-se

R$ 1,98
por litro para voar ao exterior

R$ 2,65
para voar dentro do país

Voo barato já é raro neste final de ano
Empresas segmentaram passagens dando descontos pela antecedência na compra; voo para Salvador vai a R$ 3.000

Em outubro, 47% das passagens da TAM ficaram abaixo de R$ 200, fatia bem maior que os 32% de 2011

Quem não se programou para viajar neste verão vai se deparar com preços altos para passagens entre dezembro e janeiro. Um voo para Salvador, por exemplo, pode sair por mais de R$ 3.000.

As passagens estão mais caras agora porque as mais baratas acabaram mais cedo neste ano, diz Cláudia Sender, vice-presidente comercial e de marketing da TAM.

Em outubro, 47% das passagens vendidas pela TAM ficaram abaixo de R$ 200, fatia bem maior que no mesmo mês do ano anterior (32%).

O brasileiro aprendeu que comprando antes é possível voar por menos, diz Sender.

A antecipação da compra permite às companhias segmentar os preços de acordo com o perfil de passageiro.

As companhias aumentam o valor das passagens no segmento corporativo, menos sensível a preço, e em voos de maior demanda. E oferecem mais assentos por menos em horários de menor demanda.

ROBIN HOOD

É a política de Robin Hood. Você cobra mais de quem pode pagar mais e estimula a demanda com tarifas mais baratas para quem se programar com antecedência, diz o presidente da Gol, Paulo Sérgio Kakinoff.

Nos últimos anos, as empresas passaram a estimular essa antecipação de compra. As passagens começam a ser vendidas com 330 dias de antecedência.

Cerca de 90 dias antes da partida, os voos da Gol já estão com 10% dos assentos vendidos, em média. Faltando uma semana para o voo, a ocupação passa de 60%.

Os preços variam conforme a data da compra e também a velocidade de ocupação dos aviões. Se um voo enche mais rapidamente, as passagens acompanham.

A política de segmentação de tarifas, que só foi possível com a adoção da política de liberdade tarifária a partir de 2001, ajudou a estimular a demanda do setor. De lá para cá, cresceu a uma taxa anual média de 13%.

Este será o primeiro ano em que o crescimento deve ficar abaixo de dois dígitos. A estimativa é de uma alta de 8%.

Outro fator que ajudou a fazer as passagens mais em conta acabarem mais cedo neste ano é que o dólar acima de R$ 2,00 desestimula os voos internacionais.

Muita gente que em 2011 foi para o exterior neste ano resolveu voar no Brasil devido ao câmbio, diz Kakinoff.

Apesar da percepção de que os preços das passagens estão subindo, a tarifa média em 2011 foi 43% menor do que em 2002.

O setor saiu de um patamar médio de tarifa de R$ 486,75, em 2002, para R$ 276,25, no ano passado. E 65% das passagens vendidas em 2011 foram inferiores a R$ 300.

Com tarifas menores, o volume de passageiros no mercado doméstico passou de 30,6 milhões (2003) para 87,6 milhões (previsão 2012).

Folha de S.Paulo
MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
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