Tributação sobre bens é maior preocupação entre super ricos, aponta relatório
9 de março de 2015
O mundo ganhou no ano passado 5.300 ultra ricos com fortunas acima de US$ 30 milhões; eles já somam quase 173 mil indivíduos e controlam US$ 22 trilhões de ativos
A cada ano, as holandesas Heidi e Antje recebem uma boa quantia de dinheiro de sua mãe. A viúva rica gostaria de presentear as filhas com as obras de arte e outros bens luxuosos que acumulou em sua mansão, mas o imposto sobre herança e presentes no país pode chegar a mais de 60%. Esta é uma das principais preocupações dos super ricos globais de hoje, quando cada vez mais se discute a taxação sobre fortunas como forma de redistribuir a renda. No ano passado, o mundo ganhou 5.300 ultra-ricos, sendo 53 bilionários. Ou seja, cerca de 15 pessoas por dia viram seu patrimônio ultrapassar a casa dos US$ 30 milhões 2014, ganhando o passaporte para entrar neste seleto clube, segundo relatório da consultoria de imóveis Knight Frank, com base em pesquisa realizada pela empresa de análises WealthInsight.
A nata da nata global já chega a 172.850 pessoas: isso significou um aumento de 3% com relação a 2013. Estes super ricos controlam US$ 22 trilhões de ativos. Na próxima década, segundo o estudo, eles somarão 230 mil pessoas.
Uma das constatações do Relatório de Riqueza 2015 é a de que entre os mais ricos as preocupações sobre o estado da economia mundial e os problemas geopolíticos globais, como a guerra na Ucrânia ou os ataques do Estado Islâmico (EI), foram substituídas por outro tipo de fantasma: a perspectiva de suas fortunas serem taxadas de forma cada vez mais pesada.
Como repassar a riqueza da família para a próxima geração (85%), potenciais aumentos de impostos (81%) e maior controle do governo (80%), são as principais fontes de dores de cabeça para os endinheirados, segundo a pesquisa. O relatório foi divulgado apenas algumas semanas após as revelações sobre como o banco HSBC na suíça ajudou clientes ricos a esconder dinheiro do fisco.
A mordida do leão, aliás, é citada hoje como a principal razão pela qual os ultra ricos considerariam se mudar para um país diferente. Liam Bailey, diretor global de pesquisas da Knight Frank, explica que no caso de Londres, recentes aumentos de impostos atingiram propriedades no valor de mais de 2 milhões de Libras. Com isso, o crescimento anual dos preços de imóveis de luxo se manteve em 5,1%.
Até cinco anos atrás, segundo Bailey, a cobrança de tributos sobre propriedades de alto luxo em todo o Reino Unido foi leve. E haverá a criação de impostos anuais mais elevados para imóveis empresariais.
A Europa (excluindo a Rússia) é o continente com maior número de ultra ricos: 60.565, com um total de riqueza acumulada de US$ 6.4 trilhões. Em segundo lugar, a América do Norte, com 44.922 pessoas e uma riqueza acumulada de US$ 5,5 trilhões, mas está apenas pouco acima da Ásia , com 42,272 indivíduos ultra ricos que têm uma riqueza acumulada maior: de US$ 5,9 trilhões.
A América Latina tem 9.902 super ricos, com riqueza de US$ 1,2 trilhão, sendo que no Brasil estão, deste total, 4.218 indivíduos, um crescimento de 49% em relação a 2004, quando o país somava 1.146 super ricos. No Oriente Médio, o número de endinheirados chega a 7.269, com riqueza de US$ 0.7 trilhão. A África tem 1.932 indivíduos ultra ricos com riqueza de US$ 0,2 trilhão. No caso da Rússia, o número de ultra ricos é de 2.068 pessoas com riqueza de US$ 0.6 trilhão. Já a Austrália tem 3.920 indivíduos com riqueza somada de US$ 0.4 trilhão.
O habitat natural dessa elite é Londres, com sua pompa da realeza britânica: 4.364 super ricos moram na capital da Inglaterra. A segunda cidade mais importante para estes endinheirados é Nova York, seguida de Hong Kong, Cingapura, Xangai, Miami, Paris, Dubai, Pequim e Zurich, para ficar entre as 10 primeiras.
São Paulo é a primeira cidade latino-americana, em 31º lugar, na preferência dos super ricos, seguida do México. Buenos Aires está na 38ª colocação e logo em seguida vem o Rio de janeiro. Sinais dos tempos, das 10 primeiras cidades preferidas pelos ultra ricos, quatro ficam na Ásia.
Londres ainda deverá estar no primeiro lugar daqui a 10 anos, segundo o relatório da Knight Frank, mas Cingapura está no seu calcanhar, com um crescimento projetado de 54% em seu nicho de riqueza ao longo desse período, contra um aumento de 21% no capital do Reino Unido. O relatório faz uma previsão sobre os países que abrigarão mais super ricos daqui a 10 anos: EUA (com 50.767 indivíduos), Japão (19.916), China (15.681), Alemanha (14.481) e Reino Unido (13.176).
Florência Costa
Brasil Econômico
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