FOLHA DE S. PAULO - MERCADO
Fusões e aquisições turbinam advocacia
Com operações empresariais cada vez mais sofisticadas no Brasil, no embalo da expansão econômica, um segmento pouco comentado ganha um impulso e tanto: o da advocacia corporativa.
O maior escritório "full-service" (com atendimento em várias áreas) do país, o Siqueira Castro, teve aumento de 20% da receita em 2010.
Advogados desse ramo não só acompanham processos e fazem consultoria para seus clientes mas também estruturam operações como fusões e aquisições e lançamentos de ações em Bolsa de Valores.
Do faturamento total do Siqueira Castro, cujo valor não foi revelado, 15% vêm hoje do segmento de fusões e aquisições, que começou a ser mais desenvolvido pelo escritório a partir da segunda metade dos anos 2000.
"E é nessa área que pretendemos reforçar o time em 2011 e 2012", diz Carlos Fernando Siqueira Castro, sócio-presidente do escritório, que possui cerca de 2.000 empresas clientes.
Muitas vezes, as demandas envolvem companhias estrangeiras -que podem, por exemplo, estar na mira para serem compradas por grupos brasileiros ou ter interesse em adquirir ativos aqui.
São situações que têm modificado o perfil dos escritórios e dos profissionais. Com 509 advogados, sendo 58 sócios hoje, o Siqueira Castro tem 35% da receita originada por estrangeiros ou por empresas brasileiras com negócios fora do Brasil. No final dos anos 1990, eram menos de 5%.
O escritório faz parte de uma rede de advocacia internacional, a Advoc, sediada no Reino Unido e presente em 110 países. E tem parceria exclusiva com um grupo na França e unidades próprias em Portugal e Angola, com profissionais desses locais.
Aos advogados brasileiros só é permitido lidar com a parte das operações que envolve a legislação doméstica.
"Não passa uma semana sem que indiquemos, a parceiros no exterior, empresas interessadas em investir fora do país", diz Castro. "No passado, éramos nós que recebíamos serviço do exterior", completa.
MAIS QUALIFICAÇÃO
Já o Pinheiro Neto, que possui cerca de 370 advogados atualmente, sendo 73 sócios, tem crescido "no ritmo do PIB" (Produto Interno Bruto), diz Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do escritório, que tem 9.000 empresas clientes ativas. "Privilegiamos o crescimento orgânico", completa.
De acordo com Bertoldi, a maior sofisticação das operações exige mais qualificação dos advogados.
"Os profissionais, agora, levam de três a quatro anos para pegar casos maiores. No passado, não se levava menos de dez anos", diz. "É indispensável ao advogado hoje falar língua estrangeira e ter vivência internacional, conhecer outras culturas", acrescenta.
O Machado, Meyer, Sendacz e Opice, com 280 advogados hoje, sendo 40 sócios, tem cerca de 40% da receita (o valor não foi revelado) gerada a partir de operações de fusão e aquisição. O escritório também não informa o número de clientes. "Temos um mercado amadurecido e esperamos que cresça ainda mais", diz Nei Zelmanovits, sócio-diretor.
Crescem direito digital e escritórios médios
Escritórios de advocacia de médio porte também têm sentido os efeitos da demanda aquecida no país.
O Velloza, Girotto e Lindenbojm, com 95 advogados, sendo 15 sócios e 1.100 empresas clientes, teve um aumento de 30% da receita nos últimos dois anos.
Desde 2008, quando começou a desenvolver a área de fusões e aquisições, até 2010, o escritório montou 11 operações nesse segmento, no valor de R$ 12 bilhões. Neste ano, já há outras nove em andamento.
"Com o mercado aquecido, as empresas passaram a procurar mais os escritórios de médio porte, que podem fazer as mesmas operações com qualidade e cobrando menos", diz Luiz Girotto, advogado e sócio. "Perdeu-se o preconceito com os menores", completa.
DIREITO DIGITAL
Em uma época em que as relações dentro das empresas, e entre as companhias, são cada vez mais mediadas por computador, questões de segurança de informação, privacidade e propriedade intelectual ganham mais atenção no setor corporativo.
Um dos escritórios tidos como referência no segmento é o Patricia Peck Pinheiro. Nascido em 2004, possui hoje, como clientes ativas, 120 empresas de 28 setores.
A equipe de 30 advogados, sendo 13 sócios, oferece consultoria, acompanhamento de processos e até capacitação dos clientes para evitar problemas futuros.
Dos profissionais do escritório -que, em grande parte, têm menos de 30 anos e são da chamada "geração Y"- é exigido um grande conhecimento de tecnologias e redes sociais, além do embasamento jurídico.
Entre os casos mais comuns acompanhados por esses advogados estão vazamento de dados confidenciais de uma empresa por e-mail; ofensas anônimas, também por e-mail, trocadas por integrantes de uma mesma equipe e fraudes que podem ser descobertas por meio de provas eletrônicas.
"Casos, por exemplo, de funcionários que faltam ao trabalho dizendo que estão doentes, mas são flagrados em sites de relacionamento postando fotos de uma viagem", diz Patricia Peck, fundadora do escritório.
A advogada diz que a equipe faz desde a investigação dos casos até o recolhimento das provas. E também oferece orientação sobre as medidas cabíveis.
"Muitas vezes, o desfecho é a demissão por justa causa ou a abertura de um processo para ressarcimento dos danos", completa.
De 2008 a 2010, o escritório triplicou o faturamento anual, para R$ 3 milhões. E projeta chegar a R$ 4,8 milhões neste ano.
Recrutamento de advogados cresce em vários setores
Grupos de diversos setores têm procurado mais advogados para contratar no Brasil, de acordo com a Robert Half, empresa de recrutamento.
A companhia registrou uma demanda por esses profissionais 40% maior no mês passado em comparação a janeiro de 2010.
Na maioria, são companhias multinacionais à procura de advogados com conhecimento do mundo dos negócios, para atuar no acompanhamento de operações de fusão e aquisição, abertura de capital e no lançamento de produtos.
"É uma advocacia preventiva", diz Mariana Horno, gerente da divisão jurídica da Robert Half.
CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO
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