29/09/2011
Alta do IPI é band-aid, diz especialista da FGV

Alta do IPI é band-aid, diz especialista da FGV

28 de setembro de 2011

Para Vera Thorstensen, Brasil deve utilizar mecanismos previstos pela OMC para amenizar efeitos do câmbio sobre indústria nacional

A adoção de tarifas como a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para combater a concorrência de produtos importados, principalmente da China, foi um equívoco, na avaliação da professora da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Vera Thorstensen.

De acordo com ela, os problemas cambiais e seus efeitos para competitividade de produtos de vários setores existem, mas é preciso cuidado com esses instrumentos. Para Vera, a saída para esse tipo de problema passa pelos fóruns apropriados como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e não com medidas isoladas adotadas em cada país.

Não podemos transformar a guerra cambial em uma guerra comercial. Existem regras de comércio internacional, das quais o Brasil também é signatário, e que devem ser respeitadas, afirmou nesta terça-feira, em entrevista ao iG, a professora que é uma das maiores especialistas em regulação do comércio internacional.

Anunciado na semana passada, o aumento do IPI para as montadoras que não têm fábricas no País abriu precedentes para que outros segmentos, que também sofrem com a concorrência das importações da China, também reivindiquem medidas para proteger seus mercados.

De acordo com matéria publicada pelo iG nesta terça-feira, a indústria têxtil e os fabricantes de equipamentos elétricos estão entre os setores que se julgam prejudicados pela taxa de câmbio e querem sensibilizar o governo para o problema da perda de competitividade dos produtos brasileiros.

Para a professora de Política de Comércio Internacional, que trabalhou durante 15 anos como assessora econômica da missão do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na Suíça, o Brasil já protocolou uma proposta no grupo de Comércio, Dívida e Finanças da OMC para discutir se os canais atuais são adequados para tratar de distorções no câmbio e seus efeitos nos fluxos comerciais internacionais.

Segundo a professora, pelas regras atuais os países podem usar uma compensação em casos de forte variação cambial como, por exemplo, em variação superior a 20% de uma cesta de moedas que representem mais de 80% das relações de comércio do país. O Fundo Monetário Internacional (FMI) é o órgão responsável pelo cálculo dessas variações cambiais, segundo a especialista. Esse mecanismo faz parte de regras já aprovadas e deve ser usado. Não uma medida band-aid, como a que foi adotada, disse a professora, que participa do 8º Fórum de Economia, da FGV.

Na avaliação da professora, é preciso ser mais ágil na defesa do setor industrial, dentro dos parâmetros acordados internacionalmente para evitar mais perdas para o setor produtivo, caso a crise internacional se agrave nos próximos meses. O momento é o mais propício para este debate. Não só a China, mas os Estados Unidos, Taiwan e Coreia também estão desobedecendo as regras, disse.

Não podemos transformar o Brasil numa Austrália, que só produz alimentos e serviços. Esses setores geram empregos, mas com remuneração mais baixa que a indústria. Câmbio não é um problema só do Brasil, é de todos. O que não pode é usar câmbio como estímulo para o comércio, acrescentou a especialista.

Ilton Caldeira, iG São Paulo
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