Governo diz que está aberto a negociar IPI
3 de outubro de 2011
Ministro Pimentel confirma que examinará propostas de empresas com planos de construir fábricas no país
Importadores rebatem crítica de pirataria e dizem que o setor vai recolher R$ 5,6 bi em impostos neste ano
O governo aguarda os projetos detalhados de montadoras com planos de construção de novas fábricas no país para avaliar a flexibilização do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) cobrado sobre os carros importados por essas empresas.
O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse ontem que o governo está aberto a propostas.
Empresas sérias que querem vir desenvolver produtos no Brasil terão suas propostas examinadas. Até o momento, não recebemos nenhuma, disse em São Paulo, no evento Exame Fórum.
A Folha revelou ontem que o governo deu sinal verde para aliviar montadoras do imposto mais alto desde que instalem unidades no Brasil e se comprometam com um cronograma escalonado para atingir no médio prazo 65% de conteúdo local.
Em palestra feita no mesmo evento, a presidente Dilma Rousseff voltou a defender o aumento do IPI sobre os importados.
Nós vamos dar peso à geração e agregação de valor, dentro do Brasil, e à inovação, dentro do Brasil. Daí o sentido da nossa política, por exemplo, de IPI dos automóveis, declarou.
O ministro Guido Mantega (Fazenda), no mesmo evento, afirmou que países exportadores de carros como China e Alemanha estão praticando concorrência predatória diante da queda da demanda nas economias desenvolvidas. Estão fazendo o diabo para exportar, disse.
PIRATARIA
Os importadores de veículos reagiram à declaração dada anteontem pela presidente Dilma Rousseff, de que o mercado interno brasileiro não será objeto de pirataria de país nenhum.
Em nota, o presidente da Abeiva (associação dos importadores de veículos), José Luiz Gandini, afirmou que as 25 empresas que representa não têm intenção de tornar o mercado interno brasileiro objeto de pirataria.
Segundo a nota, a associação é constituída por empresas brasileiras, com rede autorizada de mil concessionárias, que geram 40 mil empregos diretos a brasileiros.
Neste ano, apesar de termos participação de apenas 5,8% do mercado, vamos recolher aos cofres públicos R$ 5,6 bilhões em impostos, afirmou Gandini.
PROTECIONISMO
LULA EVITA CRITICAR ALTA DO IPI
Em discurso, o ex-presidente Lula disse, em Londres, que o mundo precisa agir globalmente e que não é hora de medidas protecionistas. Mas, na saída do seminário, Lula não quis criticar o Brasil, que elevou o IPI de carros importados -medida que desagradou à China, país que ameaça fazer reclamação formal na OMC. Segundo ele, havia desequilíbrio no comércio bilateral que precisava ser resolvido.
ANÁLISE
Preços dos carros sobem menos que o estimado no anúncio da alta do imposto
EDUARDO SODRÉ
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS
Os primeiros movimentos após a mudança na regra do IPI apontam para variações de preços bem menores que as especuladas no início.
Fabricantes chineses já falam na manutenção dos valores atuais de vários modelos, e mesmo montadoras estabelecidas há décadas no Brasil contêm o reajuste sobre seus importados.
A Volkswagen foi a primeira. O Tiguan 2012, que é produzido na Alemanha, acaba de chegar ao mercado por R$ 110 mil -8,6% superior ao da geração passada. Caso o repasse da sobretaxa do IPI fosse integral, o valor ficaria próximo a R$ 130 mil.
Os números mostram que há margem sobre os produtos, que permite adequação às novas regras.
Executivos ligados à Anfavea (associação dos fabricantes nacionais) comentaram que, enfim, terão noção de quanto lucram as sul-coreanas e chinesas que operam no Brasil.
O que mais incomoda os fabricantes que integram a Anfavea não é ver o crescimento em vendas dos estrangeiros, mas saber que, com os incentivos de seus países e a capacidade para escoar excedentes, marcas que não produzem em grande escala no Brasil atingiram elevada rentabilidade só com importados.
CIRILO JUNIOR
VENCESLAU BORLINA FILHO
DE SÃO PAULO
Folha de S.Paulo
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